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Objetivos


O Programa, agora denominado História e Conexões Atlânticas: culturas e poderes, oferece os cursos de Mestrado Acadêmico e Doutorado Acadêmico cujos objetivos gerais são:

1) conferir o título de Mestre e Doutor em História, com área de concentração em História e Conexões Atlânticas: Culturas e Poderes, mediante o cumprimento das exigências didático-científicas do Programa constantes do Regimento Interno;

2) formar recursos humanos de qualidade para docência e/ou pesquisa em História, assim como para outras atividades profissionais em História;

3) formar quadro de pesquisadores qualificados para refletir sobre a realidade nacional, com ênfase nas regiões Norte, Nordeste do Brasil, Caribe e Panamazônia;

Em consonância com os objetivos gerais acima, temos como objetivos específicos da formação no PPGHIS:

 

1) qualificar recursos humanos para atuar na assessoria e consultoria a órgãos governamentais, entidades de classe, organizações não governamentais, movimentos sociais organizados, entidades de consultoria e de assessoria;

2) aperfeiçoar as graduações em História e áreas afins, criando mecanismos de articulação entre a graduação e a pós-graduação, nas dimensões de ensino, pesquisa e extensão;

3) estimular a produção de conhecimento historiográfico e humanístico, bem como aprofundar análises e reflexões de caráter teórico e metodológico no campo da História;

4) desenvolver e incentivar um trabalho interdisciplinar que represente uma efetiva contribuição para a recuperação e preservação da memória histórica do país;

5) consolidar os grupos de pesquisa já existentes e fomentar a implantação de novos grupos;

6) fomentar a circulação do conhecimento e o intercâmbio técnico-científico com instituições de ensino e pesquisa da Amazônia, do Nordeste, de outras regiões do país e do exterior;

7) fortalecer os laços com as associações de profissionais em História, como a Associação Nacional de História (ANPUH), Associação Brasileira de História Oral (ABHO), Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR), Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica (SBPH), Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE), Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia (SBTHH), Sociedade Brasileira de Estudos oitocentista (SEO), entre outras.

 

Da mesma forma, a área de concentração do Programa acabou por demandar outros escopos dessa formação. Com efeito, nos últimos anos, a historiografia vem redescobrindo o potencial das histórias conectadas e das perspectivas comparadas. Nesse sentido, tendências renovadoras no campo teórico e metodológico, definidas a partir de expressões variadas, tais como Global History, Connected Histories e, finalmente, Atlantic History, forneceram valiosas ferramentas para o historiador refletir sobre processos pluridimensionais em grande escala: as diásporas oceânicas, a circulação de pessoas e mercadorias, os contatos intelectuais e políticos entre África, América e Europa, sem ignorar as trocas simbólicas e os hibridismos culturais entre as duas margens. Ao mesmo tempo, o debate acerca dos conceitos de território e fronteira, como espaços dinâmicos e historicamente construídos, e seus diversos significados ao longo dos séculos, tem impactado pesquisas sobre o papel das Américas nas redes de trocas materiais e simbólicas entre África, Europa e, até mesmo, Ásia. Nestas redes, a circulação de ideias é tão importante quanto o fluxo e refluxo de coisas e produtos. Pelo Atlântico passam, em vias de mão dupla, sentimentos religiosos, crenças, cerimoniais, ideias políticas, modos de governar, estilos artísticos e preceptivas do mundo letrado. Não cabem aqui, por outro lado, reedições de tópicos já esgotados da relação entre transmissão e recepção. Na dinâmica das trocas oceânicas, há muito mais hibridismo e sínteses e menos espaços para trocas desiguais e imposições. Não obstante, nas histórias conectadas do Atlântico o conflito está na jusante dos fenômenos históricos, quer seja nas guerras, nos embates políticos, na tensão entre laicização e religiosidade, nos antagonismos da formação social brasileira e latinoamericana, nas contradições do colonialismo africano, na repressão dos regimes militares, etc. Ao mesmo tempo, parece evidente a importância de trabalhos comparativos que confrontem as realidades do Brasil, da Amazônia, do Nordeste e do Maranhão, principalmente com o contexto latinoamericano e caribenho.

O olhar e o diálogo entre lugares diferentes levam a pensar nas possibilidades de transcender os estudos isolados para pensar nos processos simultâneos. Quando se usa a expressão Brasil-Caribe, destacamos os processos de formação identitária que acontecem tanto nos países caribenhos quanto nas comunidades tradicionais amazônicas onde a presença das populações negras foi constituinte do aparecimento de novas sociabilidades. O fato é que, as populações das duas regiões passaram por processos de formação identitária que foram semelhantes, paralelos e, em alguns pontos, conectados. Segundo Girvan (2001, p.3) o Caribe é uma categoria sócio-histórica “que comumente faz referência a uma zona cultural caracterizada pelo legado da escravidão e o sistema de plantações. Inclui as ilhas e partes de terra firme nas fronteiras e pode ser ampliada para incluir a diáspora do Caribe em Ultramar”.

No caso latino americano e caribenho, no que se refere à concepção de cultura(s) negra(s), visualizamos um campo de construção intelectual, promovido historicamente a partir de influxos entre setores intelectuais e representantes das camadas populares, especialmente, a partir dos anos de 1930, os estudos sobre o folclore do negro despontaram a partir do ponto de vista dos “eruditos” – literatos e artistas de formação acadêmica – sobre um espectro variado de manifestações culturais, dentre crenças e rituais religiosos, mitos e lendas, danças e cantos. A inclinação mais geral dos pesquisadores do folclore negro foi a de abordá-lo como um complexo coerente, como sobrevivência e tradição. Este desenvolvimento de estudos acompanhou também mudanças sócio-políticas relacionadas às populações negras em países latino-americanos e caribenhos.

No Maranhão, como parte da Amazônia Legal, convergem diversos fatores, históricos, sociais, culturais e geopolíticos que tornam a região privilegiada para estudos sobre conexões Atlânticas. Entre os séculos XVI e XIX, esta região era uma entidade geográfica na fronteira entre o Caribe, as Guianas e o Brasil. Com efeito, durante todo esse período os contatos marítimos eram mais frequentes com a Europa e com áreas coloniais de fala espanhola, e bem menos facilitados com Pernambuco, Bahia ou Rio de Janeiro. A região não pertence às rotas de navegação do Atlântico Sul, sendo mais apropriado considerar o Maranhão como parte dos circuitos do Atlântico Norte, fronteira oceânica que poderia ser chamado de Atlântico equatorial. A vocação oceânica natural deste território ensejou a recepção de diversas tendências políticas, culturais e artísticas de diferentes partes, formando um mosaico ainda pouco estudado pela historiografia nacional, cujas similitudes com a formação social e econômica das demais regiões equatoriais do Atlântico são relevantes. Ao mesmo tempo, as conexões com a África parecem peculiares na medida em que, ao contrário de Pernambuco ou Bahia, bem mais ligados aos circuitos do Atlântico Sul, no Maranhão os territórios da Guiné Equatorial tem certa prevalência em relação a Angola.

Em termos de fundamentação da proposta, é importante enfatizar que a noção de fronteira aqui articulada não é aquela definida pelos limites físicos, linhas ou marcos, mas é ensejada pelas práticas e discursos engendrados por diversos atores sociais. A fronteira, neste sentido, é viva, flexível, e até mesmo móvel, se pensarmos nos usos que as comunidades tradicionais fazem destes territórios e na presença dos caminhos marítimos e fluviais. No mesmo sentido, a noção de território é aquela definida pela miríade de discursos sobre o espaço e seus usos políticos e sociais. Assim, esta noção não se esgota em si mesma e parece mais ajustada ao campo de estudos da proposta, bem como a região que se quer privilegiar.

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