LQPN e LEAF realizam atividades de extensão com professores a alunos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) sobre os cuidados com o uso de Plantas Medicinais
Em 27 de novembro de 2025, foi realizada a atividade de extensão referente ao projeto “A Química, Ciência e Tecnologia Ambiental a serviço de comunidades Maranhenses”, na Escola Rubem Almeida, localizada no bairro Coroadinho, em São Luís do Maranhão, constituiu-se como uma experiência significativa de integração entre universidade e comunidade, promovendo a valorização dos saberes populares e o diálogo com o conhecimento científico. A ação foi organizada por uma equipe composta por alunos da disciplina de Química de Produtos Naturais do curso de Química, em conjunto com estudantes do Programa de Pós-Graduação em Química vinculados ao Laboratório de Química de Produtos Naturais (LQPN), coordenado pela Profa Cláudia Quintino da Rocha e alunos de iniciação científica pertencentes ao Laboratório de Estudos Avançados da Fitobiodiversidade (LEAF), coordenado pelo Prof. José de Sousa Lima Neto. A equipe do LQPN contou com a participação direta dos doutorandos: Amanda Miranda, Víctor Antônio e Raiene Lisboa, além dos mestrandos, Marcus Vinícius e Jhonathas Rodrigues, que colaboraram ativamente na condução das atividades.
Além disso, todos os docentes do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) mobilizaram suas turmas (três turmas) para a atividade de extensão, perfazendo um total de mais de 50 (cinquenta) participantes (alunos e indivíduos da comunidade do Coroadinho). Essa composição diversificada de participantes permitiu que diferentes níveis de formação acadêmica se unissem em prol de um objetivo comum: compartilhar informações sobre plantas medicinais, seus usos tradicionais e as evidências científicas que sustentam ou questionam tais práticas.
O encontro teve início com a apresentação dos alunos de pós-graduação, que abordaram de maneira detalhada o tema das plantas medicinais. Foram discutidos aspectos históricos, mostrando como o uso de plantas para fins terapêuticos acompanha a humanidade desde tempos remotos, passando por diferentes culturas e tradições. Além disso, os pós-graduandos explicaram os modos de preparo mais comuns, destacando infusões, decocções, percolação e macerações, e apresentaram os processos de obtenção de óleos essenciais, ressaltando sua importância tanto na medicina tradicional quanto na indústria farmacêutica e cosmética. Essa primeira parte da atividade buscou contextualizar o tema, oferecendo aos participantes uma visão ampla que relacionava o saber popular com os avanços da ciência moderna.
Na sequência, os alunos da disciplina de graduação realizaram apresentações específicas sobre três plantas medicinais amplamente utilizadas em São Luís: o alecrim, a vinagreira e o boldo. Para isso foram produzidos materiais didáticos como folderes, panfletos e painéis. Cada uma dessas espécies foi explorada em seus aspectos botânicos, modos de preparo, indicações terapêuticas e contraindicações. O alecrim, por exemplo, foi apresentado como uma planta de uso tradicional para problemas digestivos e tônico capilar, mas também foram ressaltados os cuidados necessários em relação às doses e às possíveis interações medicamentosas. A vinagreira, muito presente na culinária maranhense, foi discutida tanto em seu valor nutricional quanto em suas propriedades medicinais, especialmente relacionadas à ação antioxidante e diurética. Já o boldo foi destacado como uma planta comumente utilizada para distúrbios hepáticos e digestivos, mas cuja utilização deve ser feita com cautela, considerando que o uso indiscriminado pode trazer riscos à saúde. Essa parte da atividade teve caráter prático e educativo, aproximando os alunos da EJA da realidade cotidiana do uso das plantas medicinais e mostrando como a ciência pode contribuir para validar ou corrigir práticas tradicionais.
A atividade, que teve duração aproximada de uma hora e meia, foi marcada pela intensa participação dos estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da escola. Durante o momento de perguntas e respostas, surgiram dúvidas relevantes sobre os riscos associados ao uso incorreto das plantas medicinais. Os participantes demonstraram preocupação com questões como a falsificação de produtos naturais, especialmente aqueles vendidos pela internet sem qualquer garantia de qualidade ou autenticidade. Também foi discutida a necessidade de comprovação científica para assegurar que uma planta realmente possui propriedades medicinais, evitando que o uso seja baseado apenas em crenças ou tradições sem respaldo. Outro ponto levantado foi a importância da orientação de profissionais de saúde antes do consumo, uma vez que muitas plantas podem apresentar efeitos adversos ou interações perigosas com medicamentos convencionais.
Além das dúvidas, os alunos da EJA compartilharam experiências pessoais e relatos sobre o uso de plantas locais do Maranhão, evidenciando a riqueza da cultura popular e a diversidade de espécies utilizadas na região. Entre os exemplos mencionados, destacou-se a pimenta-de-macaco, planta tradicionalmente empregada para o tratamento de dores articulares e também associada a práticas de emagrecimento. Esse momento de troca foi fundamental para que a atividade não se limitasse a uma transmissão unilateral de conhecimento, mas se configurasse como um verdadeiro diálogo entre saberes, em que a universidade pôde aprender com a comunidade e vice-versa.
O impacto da atividade foi perceptível tanto no interesse demonstrado pelos alunos da escola quanto na reflexão crítica que se estabeleceu sobre o uso das plantas medicinais. Ao mesmo tempo em que se reconheceu a importância da tradição e da cultura popular, ficou evidente a necessidade de cautela e de respaldo científico para garantir a segurança e a eficácia dessas práticas.
Quando questionados sobre o uso dessas plantas no Sistema Único de Saúde, Prof. José de S. Lima Neto esclareceu que já existe o programa nacional de fitoterapia no sistema único de saúde e faz parte da política nacional de práticas integradoras e complementares do SUS. A população pode se organizar para verificar junto aos vereadores e a prefeitura de São Luís e com profissionais de saúde que atuam nas Unidades básica de Saúde sobre o tratamento de doenças utilizando plantas medicinais pois o sistema único de saúde já disponibiliza plantas ou mesmo medicamentos fitoterápicos para algumas das doenças atendidas no Sistema Único de saúde municipal. O professor ainda relatou sobre os aspectos agroecológicos, para a preservação do ambiente e na formação de cadeias produtivas com uso de planos medicinais. Foi explicado que para a produção de plantas medicinais é necessário preservar o ambiente, torná-lo limpo e equilibrado, minimizar poluentes e contaminações como metais pesados e agrotóxicos. Por isso, preservar o meio ambiente é fundamental, pois só assim será possível produzir plantas medicinais. Foi destacado ainda que o desmatamento e degradação de áreas naturais na região de São Luís são determinantes para a produção e encontrar as plantas medicinais para atendimento às necessidades de saúde da população ludovicense. Além disso, o uso de plantas medicinais pode ser fundamental para o desenvolvimento de cadeias produtivas colaborando com o aumento da renda da população do Coroadinho, como a produção de cosméticos, produtos de limpeza com sabões e sabonetes, velas aromáticas, dentre outros.
Em síntese, a atividade realizada na Escola Rubem Martins representou um momento de integração e aprendizado mútuo. A presença de alunos de diferentes níveis de formação acadêmica, desde a graduação até a pós-graduação, possibilitou uma abordagem ampla e diversificada, que contemplou tanto aspectos teóricos quanto práticos. A participação ativa dos estudantes da EJA demonstrou o interesse da comunidade em compreender melhor o tema e em relacionar seus saberes tradicionais com a ciência. Essa experiência reforça a importância das ações de extensão universitária como instrumentos de transformação social, capazes de promover o diálogo entre diferentes formas de conhecimento e de contribuir para a formação crítica e cidadã dos envolvidos.